11 de junho de 2018

AS HISTÓRIAS QUE COMPÕE O PLANO DE VOO (Final)


               

                Contar processos de criação de uma história em quadrinhos a mim sempre foi interessante e de certa forma acaba sendo um aprendizado a mais sobre o que se faz, pois muitas vezes esses processos caminham  por um lado mais inconsciente, mais intuitivo do que técnico e comentar sobre eles é uma forma de trazer para o lado do discernimento o que pode ser sempre um auxílio para aqueles que estão começando a produzir suas hq’s, como para os que já estão há algum tempo trabalhando nesta forma de arte, como, claro, para mim, entender e pensar melhor sobre meus processos. Então, hoje trago para vocês a postagem final sobre o álbum Plano de Voo, lançado no ano passado pelo Editora Criativo e que reúne algumas hq’s curtas que produzi para algumas revistas como Café Espacial, Clássicos Revisitados, Fierro Brazil, entre outras.
- AS VIAGENS DO CAPITÃO VIRGÍLIO, roteiro e desenhos meus, publicado originalmente na revista Café Espacial edição 10 em 2011. A questão da dualidade, dos polos, permeia minha obra não de hoje, algo que muito mexe com a minha capacidade, entender até onde essas inúmeras possibilidades pode mexer com a consciência de todos nós. Nesta hq exploro os dois tempos de Virgílio, onde num plano ele é um intrépido navegador desbravando mares misteriosos e enfrentando seu eterno inimigo, o demônio da realidade, que a todo instante tenta jogá-lo em outra existência onde é um velho doente vivendo num sanatório para idosos e doentes mentais. O que é realidade, qual delas pode ser a melhor?
Poder e sedução num jogo de realidades em "Sob o véu de Ísis"
-SOB O VÉU DE ÍSIS, roteiro e desenhos meus, publicado originalmente no álbum Clássicos Revisitados número três, em 2015. Mais uma vez a questão do que é real, do que nossos olhos e nossa mente sabem traduzir.  Como essa coleção procura trabalhar com temas específicos, aqui me foi solicitado uma hq sobre Cleópatra e achei que seria bem interessante tratar sobre o poder e suas reais dimensões e a quem afeta e talvez, o equívoco de se pensar dominar algo e se tornar escravo de seu próprio poder, até que você seja absolutamente consumido por ele, perdendo sua consciência. Na hq, conto quando o imperador romano Otaviano invade Alexandria para prender Cleópatra e Marco Antonio, após encontrar o oficial romano amante da rainha do Egito morto, Otaviano depara com a sensual faranis o esperando em seus aposentos. E mais uma vez o que é real ou não é exposto, aqui com conclusões terríveis.
Amores revividos em
"Sambinha da ave de
arribação"
- A HISTÓRIA DO OVO, roteiro e desenhos meus, publicada originalmente na edição onze da revista Café Espacial em 2012. Primeira aparição do matador Vérnio, que retornará agora no segundo semestre no álbum O santo sangue, ilustrada pelo artista Marcel Bartholo. Maiores detalhes comento aqui no blog. Vérnio, um velho e cansado matador é contratado por um bruxo moribundo para levar uma misteriosa caixa preta até um outro vilarejo e entrega-la ao irmão de seu contratante. A surpresa que o espera no final, define o personagem ao leitor: como muitas vezes estamos próximos, quase colados em algo que irá nos apresentar uma nova possibilidade de entendimento de vida e simplesmente não queremos entender.
- SAMBINHA DA AVE DE ARRIBAÇÃO, roteiro e desenhos meus e publicada originalmente na edição cinco da revista Café Espacial em 2009. Apesar do clima melancólico e poético desta hq, ela é na verdade uma grande brincadeira com alguns gêneros do próprio quadrinho, embora ela tenha sua dose de seriedade e poesia, mesmo assim. A melhor definição desta história acredito ser melhor deixa-la ao próprio leitor.  Aqui, um artista lembra uma fase de sua adolescência e um grande amor vivido e a traição sofrida, enquanto espera esse mesmo antigo amor para um reencontro num bar. Uma hq carregada de humor sutil e poesia sincera para falar de traição e perdão.

           E por fim, mais vez, quem gostou e se interessou por esse material meu, o álbum Plano de Voo está à venda na loja virtual do meu site.

25 de maio de 2018

AS HISTÓRIAS QUE COMPÕE O PLANO DE VOO 1ªparte

Capa da edição

              No ano passado a editora paulistana Criativo lançou uma nova coleção de seus álbuns voltados à artistas da ilustração e quadrinhos, a Graphic Book, trazendo material inédito de alguns artistas e obras já esquecidas pelo tempo e nunca mais republicadas, muita coisa boa e principalmente um resgate da produção nacional de quadrinhos. E foi através deste selo, Graphic Book, que lancei Plano de voo, coletânea de hq’s curtas que fiz ao longo dos anos para algumas publicações como a revista Café Espacial, Fierro Brasil e Clássicos revisitados, entre outras. A contracapa traz um texto do Sergio Chaves, editor da Café Espacial, revista cultural  longeva o qual tive o prazer de participar desde o primeiro número, além de roteirista e parceiro de meus últimos trabalhos, fazendo toda a parte de edição e edição de arte.  Quero então apresentar para vocês, o processo de criação das hq’s que compõe esse álbum, como e por que fui faze-las, principalmente criar suas histórias, o que motivou, qual os caminhos que elas levaram. Processos estes interessantes para quem aprecia e acompanha meu trabalho, assim como para novos e já nem tanto jovens assim criadores de quadrinhos, pois trocas de informações sempre são importantes.
- A QUEM INTERESSAR POSSA, roteiro e desenhos meus com tons de cinza do Omar Viñole e publicada originalmente na revista Fierro Brasil nº2 no ano de 2012.  O convite para produzir uma hq de três páginas para a segunda edição da versão brasileira da revista argentina Fierro, veio num período em que eu passava por uma crise artística, onde entre tantos conflitos me questionava a serventia, a validade do que vinha fazendo, o porquê de ainda fazer quadrinhos, a eterna dúvida se o meu trabalho se comunicava com alguém. Uma onda terrível onde se é levado e em alguns casos morre-se afogado neste oceano depressivo. Porém, em meio a toda essa carga negativa, existia um ponto dentro de mim que sabia que não valia a pena sofrer tanto e que muito mais importante era manter o sonho, aquilo que até então vinha me alimentando. Convite feito, resolvi então arriscar trabalhar em cima desta crise pessoal na hq e usar os dois contrapontos, o artista e seu problema pessoal e uma consciência falando enfim do quanto importante é manter-se fiel a seu sonho e essa consciência estava representada numa personagem sem nome, jovem, sexy, de estilo moderno. A musa. Aqui nesta hq os dois únicos personagens, o artista e a musa, são as variáveis de minha personalidade.
Sequência inicial de "A quem interessa possa"

- BELLA SENZ’ANIMA, roteiro e desenhos meus, publicada originalmente na revista Pâncreas nº02, no ano de 2010. O título desta hq foi inspirado na velha canção italiana de título homônimo e nada mais é que um exercício de fluxo da consciência, deixando a cabeça correr solta e em cima do clima que a canção pôde me gerar. Claro, há a pergunta: por que essa canção? A resposta faz parte daquelas coisas muito difíceis de explicar e vale acrescentar que não sou nenhum fã da referida canção.
-O RETRATO DE SEUS OLHOS, roteiro Sergio Chaves e desenhos meus, publicada originalmente na revista Café Espacial nº 12, no ano de 2013. Primeira vez que ilustrei um roteiro do Sergio e justamente ele coube como uma luva dentro de uma linha de histórias que gosto muito de trabalhar. Um brevíssimo momento em à mente do protagonista para dentro de um outro campo onde o sentimento é exposto ao máximo para que algo a mais e verdadeiro seja descoberto. O clima é ao mesmo tempo de pura poesia, lisérgico e onírico, onde o texto do Sergio foi preciso e inspirador para que eu compusesse as imagens.
Poesia e clima onírico em "O retrato de seus olhos"

- O HOMEM QUE NÃO SORRIA, roteiro e desenhos meus, publicada originalmente na revista Máquina Zero nº 02 no ano de 2015. A ideia desta hq é muito similar a Questão de Karma, ou seja, algo que partiu de uma situação única, um tópico, que então gera todo o roteiro. No caso deste quadrinho trata-se justamente do que o título já diz: um homem que nunca sorria e para compor essa característica que é na realidade um drama para o protagonista, a trama conta a história de um homem casado com a filha de um milionário e este amaldiçoava o dia em que sua única herdeira resolvera se casar com um zé ninguém, pobretão. Disposto a amarrar seu genro a uma tragédia pessoal para o resto de sua vida, esse velho no leito de morte diz que irá abençoar seu casamento e deixar toda a herança para sua filha e para ele, se cumprir uma promessa para o resto de seus dias: nunca mais sorrir. Após fazer esse estranho pedido o milionário morre deixando então o protagonista sem muita opção e este resolve seguir à risca o pedido do sogro, porém as coisas acabam saindo do controle.

Para que esta postagem não fique tão grande irei dividir em duas partes, portanto na próxima falo sobre o resto das hq’s que compõe o álbum Plano de Voo.
E claro, se ficou interessado em conhecer de perto e ler essas hq’s, ela está à venda na loja virtual do meu site .

7 de maio de 2018

OS CAMINHOS DIVERSOS DE UM PERSONAGEM JÁ NO FIM


 
Sequência de "O santo sangue" com arte de Marcel Bartholo, a ser lançado no segundo semestre
            Já comentei algumas vezes neste blog sobre os curiosos caminhos que uma criação leva ou no caso desta postagem de hoje, um personagem. Muitas vezes ele segue por trilhas diferentes do que originalmente havíamos concebido, isso eu digo, independentemente de sua popularidade. O personagem Vérnio, um matador já com sua idade um pouco avançada, com uma aposentadoria longe de acontecer, vivendo num universo que mistura sertão e outros elementos não tão ligados entre si, foi criado em 2012 para uma hq curta chamada A história do ovo, publicada na edição 11 da revista Café Espacial (publicada pela Associação Café Espacial), nesta história o leitor é apresentado a essa matador que tem a missão de levar uma pequena caixa de um vilarejo destruído após o ataque de bandidos para um outro vilarejo. O trabalho lhe é dado por um bruxo à beira da morte que o contrata para levar a seu irmão, outro bruxo, a tal caixa. No caminho ele passa por algumas provações que testam sua fidelidade a seu objetivo, até enfim chegar ao vilarejo. Vérnio é quase um simbolismo, pelo menos essa foi minha primeira intenção, do ser humano em si, sempre à beira da compreensão do simples e necessário para que se viva em paz consigo e com o resto, porém sempre tropeçando e caindo em seus princípios. Daí a lição vivida na “aventura” não é aprendida, apenas vivida, não assimilada, e assim segue adiante envelhecendo e com sua espingarda cada vez mais pesando em suas costas. Vérnio, um homem velho, cansado, preso ao seu início, ao que lhe foi formatado e se auto formatou, sem entender que tudo sempre muda. Foi dentro deste preceito julguei que esse personagem caberia numa aventura maior, num álbum.
Primeira versão não finalizada com cores de Omar Viñole
             O santo sangue foi escrito há uns cinco ou seis anos, não me recordo agora, e trazia o personagem num outro momento, completamente desassociado da primeira hq. Desta vez é contratado por um rico fazendeiro para matar um misterioso ex-funcionário que segundo ele, havia tirado a virgindade de sua única e querida filha e lançado uma maldição sobre ela, só que tal maldição na realidade mostrou-se um benefício para o humilde povo da região: todos os dias durante algumas horas, Lucem (a filha do fazendeiro) sangra, um tipo de menstruação constante e ininterrupta e este sangue expelido da moça tem poderes curativos, trazendo milagrosas curas para as pessoas que a ela procuram. Inconformado com tudo isso pois sua fazenda havia se tornado um lugar de peregrinação, além de tudo, este fazendeiro põe o matador, Vérnio, atrás desse suposto malfeitor de sua filha. Mais uma vez, o matador irá passar por confrontos colocando à prova várias questões, inclusive coisas relacionadas a sua história pessoal. A hq começou a ser desenhada por mim há alguns anos atrás, com cores e arte-final do Omar Viñole, parceiro de outros trabalhos meus (Yeshuah, Histórias do Clube da Esquina, Auto da barca do Inferno, etc.), porém o trabalho acabou não tendo continuidade por alguns fatores, entre eles a produção de outro projeto, Cadernos de Viagem, lançado em 2016. E é aí que entra o talentosíssimo artista Marcel Bartholo: conhecido meu há alguns anos, vem se enveredando nos quadrinhos há pouco tempo e com resultados surpreendentes e foi em uma das conversas, acredito eu, em um dos eventos de quadrinhos do país que lhe propus uma parceria, desenhar um roteiro meu. Marcel aceitou o convite de imediato e não 
O artista Marcel Bartholo
houve dúvidas sobre que texto lhe passar, O santo sangue, o estilo de sua arte, seu traço, seu acabamento, quase como um Portinari (comparação quase no mesmo nível, creiam) dos quadrinhos, era a linha visual que esse roteiro pedia e mais ainda, o protagonista, o velho matador Vérnio precisava. Mesmo tendo apresentado A história do ovo e as páginas finalizadas da primeira versão de O santo sangue, Marcel trouxe toda uma roupagem nova para esse universo e principalmente dando uma visão pessoal ao personagem, dando sem dúvida nenhuma, a cara definitiva ao personagem. Aí, chego no ponto de partida deste texto quando comentei sobre os curiosos caminhos de um personagem. O santo sangue, será lançado agora no segundo semestre pela editora Marsupial no seu selo de quadrinhos, a Jupati. Será o primeiro trabalho de Marcel Bartholo dentro de um esquema editorial e de maior penetração (anteriormente havia lançados trabalhos de forma independente) e com certeza, será uma imensa satisfação trazer para vocês mais essa andança do velho matador, agora sim, definido em suas indefinições do viver. Curioso pensar no final disto tudo, que talvez a aposta tenha sido muito mais da minha simpatia pelo personagem do que um sucesso que ele tenha obtido anteriormente, embora agora esteja tomando uma estrutura melhor, digamos assim. Ah, claro, e se depois desta teremos outras histórias? Só o tempo e as vendas (rs...) poderão dizer, mas se for o caso e o Marcel topar, será com ele conduzindo com suas fortíssimas e vigorosas imagens com certeza.
Primeira aparição do matador Vérnio em "A história do ovo", publicada na edição 11 da revista "Café Espacial"


6 de abril de 2018

MAIS UMA FILHA PARA DRÁCULA


             
A jovem vampira que faz seus selfie com suas vítimas
             Nos próximos dias 14 e 15 de abril, acontece aqui em São Paulo, o Festival Guia dos Quadrinhos, tradicional evento da área e que de certa forma abre para os outros eventos que irão acontecer no decorrer do ano como o Festival Internacional de Quadrinhos – FIQ e Bienal Internacional de Quadrinhos. E durante o evento, entre alguns lançamentos que com certeza acontecerão, um em especial trago para vocês que são as novas edições de Calafrio e Mestres do Terror, clássicas publicações criadas ainda nos anos oitenta pelo mestre Rodolfo Zalla e que após sua morte vem tendo sua continuidade garantida pelas mãos de Daniel Saks e sua editora Ink & Blood Comics.  Desde a edição sessenta e sete, venho colaborando diretamente na revista com a personagem Anya, a filha de Drácula.
           
Capa da nova edição
A proposta para conceber uma série para a revista Mestres do Terror (que justamente trabalha com personagens seriados ao contrário da Calafrio, que são histórias de terror avulsas) veio justamente durante uma conversa minha com o editor, acontecida na edição do ano passado, 2017, do referido Festival Guia dos Quadrinhos. Durante a conversa, Daniel Saks comentou  sobre alguns pontos de distribuição das revistas que eram postos de gasolina na região de Curitiba, local onde fica a editora e que nestes postos, um potencial público leitor vinha de caminhoneiros e viajantes. Essa premissa me atraiu de imediato pois está situado aí o básico, o primordial da publicação de Histórias em Quadrinhos, o público “comum”, o leitor interessado em simplesmente ler uma boa história, seja ela de qual gênero for. Nada de coisas mais aprofundadas ou estéticas a serem entendidas ou analisadas, apenas uma boa leitura que irá te entreter naquele momento em que se está saboreando a leitura. Essa estatística comentada me atiçou completamente e levou-me a propor para o editor a criação de uma série com um terror clássico, assim como foram as revistas de terror que tanto fizeram sucesso no país nos anos sessenta e setenta e era a premissa das publicações em questão. Essa série veio então na ideia de algo já um tanto desgastado no gênero terror, mas que justamente por isso valia uma nova olhada para uma repaginada: uma filha de Drácula. Exatamente isso. O Clássico conde de tantas hq’s, filmes, livros e mais o que for possível, ao longo de sua existência gerou um bom número de filhas, tanto no cinema, como nos quadrinhos, como na literatura ( Naiara, Nadia, Condessa Marya Zaleska, entre tantas...), todas carregadas com uma aura de mistério e muita sensualidade, a ideia então era trazer para algo mais palatável, uma filha meio que desconhecida pelo próprio vampirão, sim, já que havia feito tantas pelo mundo em diferentes épocas, que esta uma a mais havia lhe passado desapercebido e é justamente essa que irá lhe trazer dor de cabeça, pois trata-se de uma jovem, aparentando seus dezoito/vinte anos e que traz em si uma rebeldia natural à juventude e uma postura do tipo “foda-se/tô cagando pra tudo”. Essa premissa por si já valeria para dar, acredito, um novo tempero a esse tipo de personagem.
           
Delegado Janus e Fred,
dois antigos personagens rivalizando com Anya
 As minhas mulheres sensuais sempre foram uma característica forte em meus quadrinhos, neste caso aqui, procurei obviamente seguir essa qualidade, mas dando um tempero diferente, já que a personagem tinha uma atitude fora dos padrões, sua beleza não seria o que evidenciaria e sim essa sua característica rebelde, inclusive através de um visual mais despojado, tatuagens e outros adereços. Dentro do universo de histórias da personagem, soma-se o delegado Janus ( antigo personagem meu, que já apareceu na minissérie Depois da Meia-noite e na antiga série oitentista/noventista da personagem Meia-Lua, logo farei uma postagem comentando só dele, prometo) que investiga a série de assassinatos cometidos pela vampira, auxiliado por um velho detetive aposentado, Fred. Aqui, vale um detalhe: Fred foi criado nos anos sessenta pelo magnífico Nico Rosso para as hq’s seriadas do Drácula, o qual produziu uma infinidade e justamente tinha o detetive Fred como seu antagonista, que vivia a caça-lo por todos o canto. Nesta série da vampira Anya, quis fazer minha homenagem a esse fabuloso artista que muito me influenciou e ainda hoje reverencio, trazendo esse personagem de volta, mas nesta série, ele obviamente não é mais um jovem audaz como nas clássica hq’s de Drácula, e sim, um velho, porém incansável perseguidor do vampirão e sua prole. 
           
O roteirista Lillo Parra
Para essa empreitada, chamei Lillo Parra, grande roteirista, criador de um dos mais belos quadrinhos publicados nos últimos tempos, La Dansarina, feito em parceria com o artista Jefferson Costa, para criar comigo as histórias. O resultado foi que verdade, além das histórias da Anya, acabamos gerando (e ainda estamos) um universo todo interligado de clássicos personagens do terror B, como uma múmia e um monstro feito de lixo acumulado do nosso Rio Tietê, O Monstro do Tietê, que tiveram as artes de Will e Chris Ciuffi. As séries, encabeçadas pela Anya, a filha de Drácula, estão sendo feitas e ainda se encontram no começo, há muita coisa pela frente ainda e parece que os leitores estão gostando do que vem sendo apresentado.
            Como disse, a ideia toda é diversão, entretenimento. De minha parte, talvez mais divertir do que assustar e isso por si só já vale muito, além de acrescentar mais uma filha ( meio badass, mas tudo bem) pra essa minha prole de mulheres desenhadas.


Para saber mais sobre o Festival Guia dos Quadrinhos é conferir aqui
e para adquirir as revistas Mestres do Terror e Calafrio, é entrar em contato com o editor
através da página no Facebook

16 de março de 2018

TIANINHA E OS CAMINHOS PARA SUAS HISTÓRIAS

Capa da segunda revista da personagem

             Acredito que não exista uma regra de fato para se criar. Criar um roteiro. Muita gente tem seus métodos e nele mantém seu ritmo de criação constante. No caso hoje falo com vocês de roteiro de uma História em Quadrinhos, claro, ponto base deste blog. Para mim, sempre trabalhei das mais diversas formas possíveis e para que melhor entendam, darei alguns exemplos: a trilogia Yeshuah - tinha uma linha mestra, uma espinha dorsal que era a história de Jesus em si e como não havia intenção de modificar a “sinopse original”, digamos assim, fui criando o roteiro à partir de cada cena que ia desenvolvendo, ou seja, do início até o fim do roteiro que gerou quase quinhentas páginas de quadrinhos,  tudo foi criado à partir de cada bloco, cada sequência, isso ao longo de treze anos que foi o tempo que levei para produzir toda a trilogia. Ou seja, muita coisa, ou arrisco a dizer que quase que em sua totalidade das coisas pensadas para o último livro, Onde tudo está, lá atrás, enquanto trabalha no roteiro e desenhos simultaneamente de Assim em cima assim embaixo, o primeiro livro, não haviam sido pensadas. Foram acontecendo no decorrer da criação do texto e arte da terceira parte. Particularmente acho essa experiência de criação muito interessante e desafiadora, porém, não é uma regra na minha forma de escrever roteiros. Claro que esse processo funciona comigo porque sou o autor do texto e da arte, então a criação simultânea torna-se um interessante processo.
           Alguns outros trabalhos meus como Questão de Karma (desenhado pelo Alexandre Santos), Histórias do Clube da Esquina, a minissérie Depois da meia-noite e Cadernos de Viagem, para citar alguns, tiveram seus processos muito semelhantes e mais tradicionais, digamos assim, ou seja, escrevi o roteiro na íntegra, da primeira página à última e aí depois fui trabalhar nos desenhos. Meu mais recente roteiro que breve pretendo começar os seus desenhos, As tentações de Santo Antão, também trabalhei dentro deste processo tradicional, embora algo no conceito foi repensado bem posteriormente e curiosamente não altera nada do texto, mas sim da concepção visual. Experiências fantásticas.
           Enfim, toda essa apresentação na verdade é para falar de O gran circo Orgasmático, segunda revista da série da Tianinha, lançada em fevereiro. Nessa nova aventura da loira, ela ainda está no Nepal (confira as postagens anteriores, onde explico sobre essa nova fase da personagem), porém pretende sair do país para conhecer o resto do mundo. Sem dinheiro para esse salto, busca um velho amigo residente em Katmandu, capital do país, para pedir um auxílio, que lhe é negado devido a antigas rusgas, a má fama da Tianinha, ainda a precede. Nesse caminho, a loira encontra Thelonius Blasco, misteriosa figura, dono do tal Gran Circo Orgasmático do título. Convidada a trabalhar no respectivo circo, Tianinha descobre que se trata de um show que propõe uma liberação sexual da plateia e dos artistas, através da inalação de um gás alucinógeno que mistura entre outras coisas hormônios femininos e masculinos. Apesar deste aparente espetáculo de interação demasiada entre público e as figuras que comandam o espetáculo, jovens, homens e mulheres, todos sensuais e muitos dispostos ao sexo, Tianinha desconfia que toda essa parafernália sexual nada mais é que um subterfúgio para de certa forma alimentar Thelonius Blasco, talvez, um tipo de vampiro sexual. Porém, como fora convidada a trabalhar no circo pelo próprio, ela resolve comprar a briga.
           Quando foi pensado inicialmente, este roteiro, apresentava algumas ideias, como Thelonius ser um tipo de antagonista da Tianinha, para essa e futuras aventuras. Mas a proposta desta série é justamente não ter um fio condutor, ou seja, o que foi pensado para o primeiro número, não é necessariamente o que se seguiu para o segundo (embora sim, há ligações entre as edições), então devo confessar que a essa altura já não posso garantir para vocês que Thelonius irá continuar a ser simplesmente um antagonista, acredito que há um campo maior e mais interessante a ser explorado. Os roteiros das revistas da Tianinha também são escritos da forma tradicional, ou seja, escrevo da primeira à última página e depois vou para prancheta desenhar, porém, assim como a personagem, quando abandona o templo encravado numa montanha do Nepal para seguir o rumo de seu destino sem saber ao certo o que virá pela frente, venho trabalhando assim seus roteiros. Fechei a história da segunda edição, que não se completa (olha o spoiler aí!!), porém, sem saber ao certo que rumo essa mesma história tomará na terceira edição e nem mesmo se irá ter seu desfecho. Claro que muita coisa vai somando a essa experiência de criação e uma delas é saber da reação dos leitores a cada edição. Se loira Tianinha não sabe do seu futuro, experenciando a cada edição suas aventuras, o mesmo posso lhes dizer deste criador aqui. E isso é bom demais.
Nesta nova fase da personagem, alguns velhos hábitos não existem mais
            Ficou interessado nesta nova aventura da Tianinha? Vá na minha loja virtual. É só clicar aqui.

3 de março de 2018

SUBINDO O OLIMPO TROPICAL (final)


             Em uma das inúmeras, milhares de conversas que tive com o André Diniz ao longos dos anos em nossa longeva amizade, uma ocasião, nesse período que começávamos a trabalhar em Olimpo Tropical, mais especificamente eu, desenvolvendo os estudos dos personagens, falávamos do interesse em comum em trabalhar com outras possibilidades de quadrinhos, no que se refere ao cair no lugar
Capa da edição portuguesa lançada pela Polvo Edições
comum de criar histórias violentas, tanto conceitualmente quanto visualmente, para nós, o momento que cada um vinha passando com renovações pessoais, era esboçar novos caminhos e principalmente novas possibilidades no campo da criatividade. Resumo: esta coisa não nos interessava mais. Porém, o paradoxo estava estabelecido. Com um modo de pensar sobre o trabalho, sobre as coisas que se queria e não fazer pela frente, com uma história justamente falando sobre o violento universo do tráfego na favela? Para o André, estava muito claro, que era algo que precisava contar e, não se tratava diretamente de uma história de violência. Violência por violência. Isso em conversas posteriores, sobre o roteiro em si, foi muito conversado entre nós. 
            Naquele período, dois mil e quatorze, havia terminado Yeshuah – onde tudo está, terceiro livro da trilogia Yeshuah e que fora, uma profunda experiência pessoal e artística que obviamente promovera profundas modificações na minha forma de pensar quadrinhos, especificamente falando. Vale adiantar para vocês que Olimpo Tropical era para ter sido meu primeiro trabalho pós encerramento da trilogia Yeshuah. Não acabou acontecendo. Contrato e publicação já pré-definidas com a editora Polvo de Lisboa/Portugal, algo realmente bloqueou meu processo de criação desta hq. Algo impediu que eu mergulhasse nesse profundo mar que era conceber visualmente o roteiro do André. O pré-julgamento cristão de nós ocidentais, impedia num primeiríssimo momento um mais aprofundado entendimento deste roteiro. Por aí, vale dizer, ou melhor confessar que a coisa realmente não prosseguiu, embora claro, os trabalhos de quadrinização já vinham acontecendo, mas num processo lentíssimo e, nesse tempo acabei lançando Dedos Mágicos, Questão de Karma e Cadernos de Viagem. É claro, que conhecedor da infindável qualidade de narrador de histórias que o André tem e, principalmente um talento de parir personagens demasiadamente comuns, corriqueiros e riquíssimos em suas personalidades e psicologias a serem estudadas (estudiosos dos quadrinhos atentem a isso!), muito me incomodava o fato de não assumir os trabalhos com fervor e disposição desta hq, até porque o meu parceiro e velho e querido amigo esperava isso de mim. 
            Um fato raro onde me arrisco a dizer que provavelmente seja a primeira e única vez que tenha feito até o momento, reli o roteiro umas quatro vezes. Li sequências espaçadas, enfim, fui os poucos percebendo qual era o discurso, as metáforas, os simbolismos que estavam ocultos nos personagens, em seus sentimentos, no cenário em si. Muita coisa acredito que puro entendimento meu e claro, isso é que valeu para que mais que virar o ilustrador do roteiro, eu virasse realmente um coautor, que é assim que tem que ser.
             Não quero me estender em minhas percepções deste roteiro e seus sutis momentos, às vezes fortes, às vezes delicados. Isso é fundamental que seja deixado e principalmente permitido para cada leitor. Um trabalho riquíssimo do André. Quando comentei anteriormente da questão do pré-julgamento, justamente me vi caindo na obviedade de querer escrever ou desenhar roteiros onde o discurso pacífico vinda direto como uma bandeira tremulando, pouco percebendo que as coisas podem vir às vezes muito mais fortes do que as outras explicitadas. Um velho criador como eu, não percebendo essa lei, num primeiro momento, porém, atento para aprender. Uma aula e um aprendizado que me fez mergulhar então, como queria, profundamente na narrativa visual de Olimpo Tropical. O resultado foi mais que feliz para mim, para o André, para os leitores. A obra vem seguindo, desde o seu lançamento, no final de dois mil e dezessete durante o Comic Con Experience, uma história muito feliz, tanto em Portugal, onde foi publicada inicialmente, quanto aqui e com certeza, pelos caminhos que for seguir no futuro. 
            Ficou interessado na leitura deste meu mais recente trabalho? Na loja virtual do meu site está à venda, clicando aqui.
Delírio, medo e tormento na mente de Biúca, o protagonista de "Olimpo Tropical"


22 de fevereiro de 2018

SUBINDO O OLIMPO TROPICAL (parte 1)


            Em meados de 2013, finalmente encerrava a trilogia Yeshuah. Não me recordo que período foi exatamente, mas provavelmente foi em meados do ano, junho ou julho. A melhor forma de recuperar o fôlego após treze anos concentrados sobre as quase quinhentas páginas que fizeram essa trilogia, era limpar a prancheta e começar a trabalhar em um novo projeto: fôlego eternamente renovado. Aquela deliciosa sensação de findar uma trajetória e o ineditismo de uma nova. André Diniz, roteirista e desenhista de mão cheia e de talento inigualável, e antes de tudo amigo de longuíssima data (isso para não entregar a idade de ambos), veio naquele bom e velho jeito sossegado e discreto de ser, propor-me essa nova obra a se trabalhar na minha prancheta limpa. A coisa vinha sem nome inicialmente, onde bem depois, numa mesa de padaria ao lado de sua casa aqui na Vila Mariana (hoje, Diniz mora em terras lusitanas), com ajuda de sua esposa Marcela, conseguimos parir o título: Olimpo Tropical.
André Diniz, roteirista 
             André Diniz, que me perdoem os outros amigos parceiros do texto, é provavelmente o que mais se encaixa com minha proposta de fazer quadrinhos. Explico: existem alguns elementos em suas histórias que me seduzem e muito complementam o que quero contar. Há coisas escondidas, sentimentos, guardados atrás de ações, movimentos de seus personagens. Sutilmente guardados, porém não escondidos para os melhores observadores perceberem. Pérolas não jogadas aos porcos, mas aguardando serem colhidas com a atenção e o coração de bons pescadores. Assim, havia sido em nossa primeira parceria numa obra autoral Subversivos: Companheiro Germano, lançado em 2000.Um marco de grande importância em minha carreira e divisor de águas na minha forma de desenhar e contar uma história.
Escadaria no Morro da Providência, em foto de
Maurício Hora, que foi um dos pontos de
inspiração para "Olimpo Tropical"
            Mas por que levamos tanto tempo para fazermos outro trabalho juntos? Primeiramente porque cada um teve e tem seus projetos solos, pessoais e outra, porque usando aquele velho bordão, o tempo sabe o que faz. André, como estava dizendo, veio me propor uma nova parceria em uma história sua inspirada em uma de suas muitas andanças pelo Morro da Providência , primeira favela carioca e localizada na região central da cidade. André nesse período estava fazendo a biografia de Maurício Hora, fotógrafo de prestígio internacional e morador desde que nasceu do referido Morro da Providência. Enfim, nas andanças pela favela para pegar depoimentos e imagens para compor a biografia desenhada do fotógrafo, topou com uma cena curiosíssima, para André pelo menos, não acostumado a isso, ao contrário dos moradores: um garoto, um menino, sentado no topo de uma escadaria imensa da favela, totalmente largado em uma cadeira, entediado, com uma metralhadora, acho, não me recordo agora o que me contou então. O garoto estava vigiando do topo da escadaria, caso algum grupo da polícia subisse para atacar o tráfico da favela. A visão daquele moleque com tédio de um cotidiano violento, sacudiu sua cabeça, foi um impacto. E qual a melhor forma de fazer esse sentimento criar seu caminho? Gerar uma história. Criar uma História em Quadrinhos. 
            Morro da Favela, a obra de André onde conta a biografia do fotógrafo Maurício Hora, havia sido lançada há alguns poucos anos antes e alcançado grande sucesso de público e crítica aqui no Brasil e começava a trilhar seu caminho fora do país, com publicação na França e Inglaterra (hoje já somam Portugal e Polônia, que me recordo), então, a intenção era justamente ter essa história do “menino entediado e sua arma” contada visualmente por outro desenhista. Esse desenhista seria eu.
           Na próxima postagem, continuarei contando um pouco mais do processo de criação deste meu mais recente lançamento, Olimpo Tropical.

19 de fevereiro de 2018

O QUE ESPERAR DESTA NOVA TIANINHA?


           
Sequência inicial da nova hq da Tianinha
Na postagem anterior do blog, comentei com vocês sobre este remake da personagem Tianinha, esta repaginada, este reboot, como é costumeiro dizer nos meios quadrinísticos. Na realidade, julguei ser em um primeiro momento algo um pouco difícil de assimilar por parte dos leitores mais antigos, conhecedores e seguidores das antigas hq’s da personagem. Afinal de contas,foram nove anos de publicação mensal, dentro de uma linha pré-estabelecida pela editora, no caso a Rickdan, na época,  suas hq’s seriam de cunho erótico, com situações burlescas, cômicas, paródicas, enfim todas envolvendo sexo. Mesmo a Tianinha tendo uma postura dona de si, era inegável que dentro de seu universo de histórias, vivia e respirava sexo. E assim foi durante toda sua primeira série. Tudo ok. Foi como tinha que ser. Frase de efeito, porém, carregada de verdade. Mas, ao contrário do que julgava, como vinha dizendo, os leitores já conhecedores da Tianinha entenderam perfeitamente a proposta desta nova versão e abraçaram a causa muitíssimo bem. Maravilha.
Nesta versão 2017, a coisa muda completamente. Quase completamente. Primeiramente pelo meu lado de criador e mesmo de profissional do desenho, onde seria quase que impossível voltar a trabalhar com aquele tipo de histórias e cenas desenhadas. Não por uma questão de moralismo, ou qualquer coisa semelhante, mas pela minha postura diante do meu trabalho e das coisas ter mudado muito. Amadurecimento, pode ser o nome a se dar, porém não me preocupo muito com isto. Óbvio que ainda nutria um imenso carinho por essa personagem, que disparado é a minha criação, meu personagem mais popular. Como disse na postagem anterior, a intenção primeira era trazer a personagem para este novo (já não tanto) jeito de fazer quadrinhos, ou seja, o cara que escreveu e desenhou coisas como a trilogia Yeshuah, “Cadernos de Viagem”, “Histórias do Clube da Esquina”, entre tantas outras coisas, poderia também fazer novas hq’s da Tianinha e faze-la presente dentro deste time de obras.
            Foi dentro deste conceito que foi feito o primeiro número recentemente lançado. Há uma incrível sensação de infinitas possibilidades, de temas, tramas, coisas a se discutir, nas hq’s desta série. Lógico, ela continua uma garota gostosa, sensual e adepta do bom sexo, com quem ela quiser. Mas há outras coisas importantes a se contar em histórias e claro, antes de tudo, entreter.
Tianinha: versão 2017 com doses da versão antiga
           Vale por fim comentar com vocês que, há um curioso raciocínio sobre a Tianinha, que se adequa muitíssimo bem a todo esse momento em que as mulheres cada vez mais vem mostrando definitivamente sua igualdade e em alguns casos, a superioridade em relação a nós homens. Já chegaram a comentar que a Tianinha, a personagem, não poderia estar desse jeito que agora estou trazendo em 2017, que tinha que continuar a ser como foi no passado… ou seja fadada a ser aquilo ao qual foi “criada”. Pois bem: a questão do “tem que”, uma imposição de algo, d’uma postura, mesmo para uma personagem que à princípio pareça já definida, coisa que ela não é, me lembra muito a postura de alguns muitos machos pensam em perpetuar sobre as mulheres e seu local no mundo. Nada disso. Absolutamente não. Como mulher de papel, eu como criador, livre, podemos, eu e ela, caminharmos pelos destinos que nós iremos escolher. Não é isso?

18 de fevereiro de 2018

TIANINHA, UMA FORÇA VIVA QUE RETORNA


Capa da nova revista da personagem Tianinha
            No período em que produzi a série da Tianinha, que compreende do ano 2000 até 2009, costumava brincar com o pessoal da redação da revista Sexy, local onde a personagem foi publicada todo esse tempo, mensalmente em uma versão menor e barata da publicação carro chefe da editora, uma revista chamada Sexy Total,  que a loira era na realidade uma entidade viva, um tipo de pomba-gira, que não dava para brincar/zombar dela não. O motivo desta brincadeira, era que nos primeiríssimos anos de produção da série, o dono da editora deixara público que não gostava de Histórias em Quadrinhos e que só vinha publicando as hq’s da personagem, porque o gênero ao qual ela estava vinculada, o erótico, mostrava à princípio muito forte para o público alvo da Sexy Total, apenas por isso, segundo ele. E neste período, várias vezes tentou tirar a secção da revista, tentativa infrutífera em todas as suas vezes, pois em pesquisas com leitores, a parte da publicação que os leitores mais gostavam, era justamente as aventuras sexuais da loira safada Tianinha. E assim decorreram nove anos de um sucesso crescente.
Tianinha foi criada por mim a pedido do primeiro editor da revista, Licínio Rios, inclusive o nome da personagem foi proposto por ele, fazendo uma alusão a uma conhecida colega sua, também do meio editorial. O sucesso da loira se estendeu na internet também, num período em que os fotologs e blogs começavam a ganhar mais espaço e popularidade. O fotolog da personagem que durou uns bons anos, chegou a ter duzentas mil visitações em um mês, o que não é pouco hoje e muito menos na época, 2005/2006…
O final da série  ocorreu pelo cancelamento do título da revista, pela vendagem baixa que já se manifestava no mercado editorial em relação aos títulos masculinos, as revistas de mulher pelada. E, naquele período optei também em dar uma aposentadoria para personagem. Costumava brincar em bate-papos entre amigos e mesmo em eventuais entrevistas, quando me perguntavam da personagem, dizendo que ela estaria em algum lugar paradisíaco do mundo gozando, como sempre fez muito bem, de umas merecidas férias, afinal nove anos, é para poucos, dentro do cenário do quadrinho nacional.                                    
           Agora, por que voltar a produzir suas hq’s, passado todos esses anos? Confesso não ser do meu estilo, voltar a trabalhar com coisas já feitas, principalmente material que foi exaustivamente produzido. Muitos amigos editores independentes e autores, já propuseram que trouxesse à tona esse ou aquele personagem ou mesmo desse continuidade a esse ou aquele livro, mas não, sempre fui da intenção de seguir adiante, pois há muita ideia por aí esperando ser colhida. Porém em um determinado momento, há uns dois anos atrás, algumas coisas começaram a acontecer que foram montando um painel de possibilidades na minha cabeça: conversa com alguns amigos que foram ligados direta ou indiretamente à personagem, como o jornalista Roberto Sadovski, que foi editor um período da Sexy e da Sexy Total, um grupo de garotas, jovens, entre seus vinte e poucos anos, que foram em uma palestra minha e lá, depois numa conversa informal, contaram ser fãs da personagem e o quanto a Tianinha representava para elas como conceito feminino, enfim, tudo isso foi gerando algo e algo novo na minha cabeça. Foi então que realmente pude perceber que livre, digamos assim, das rédeas de uma revista masculina onde obrigatoriamente a Tianinha teve que assumir uma postura erótica o tempo todo, pois era a tônica de suas histórias, a personagem mostrou para mim que tinha um universo de possibilidades a serem exploradas, claro, também o erotismo, mas muito mais. Poderia traze-la do gênero onde ela ficou sedimentada, para o que hoje é o meu pensar de criar hq’s, gerar entretenimento. E assim foi feita a aposta que foi lançada no mês de outubro de 2017: Tianinha – O ponto transcendental.