Em uma das inúmeras, milhares de
conversas que tive com o André Diniz ao longos dos anos em nossa longeva
amizade, uma ocasião, nesse período que começávamos a trabalhar em Olimpo
Tropical, mais especificamente eu, desenvolvendo os estudos dos personagens,
falávamos do interesse em comum em trabalhar com outras possibilidades de
quadrinhos, no que se refere ao cair no lugar
comum de criar histórias
violentas, tanto conceitualmente quanto visualmente, para nós, o momento que
cada um vinha passando com renovações pessoais, era esboçar novos caminhos e
principalmente novas possibilidades no campo da criatividade. Resumo: esta
coisa não nos interessava mais. Porém, o paradoxo estava estabelecido. Com um
modo de pensar sobre o trabalho, sobre as coisas que se queria e não fazer pela
frente, com uma história justamente falando sobre o violento universo do
tráfego na favela? Para o André, estava muito claro, que era algo que precisava
contar e, não se tratava diretamente de uma história de violência. Violência
por violência. Isso em conversas posteriores, sobre o roteiro em si, foi muito
conversado entre nós.
Capa da edição portuguesa lançada pela Polvo Edições |
Naquele período, dois mil e quatorze, havia terminado
Yeshuah – onde tudo está, terceiro livro da trilogia Yeshuah e que fora, uma
profunda experiência pessoal e artística que obviamente promovera profundas
modificações na minha forma de pensar quadrinhos, especificamente falando. Vale
adiantar para vocês que Olimpo Tropical era para ter sido meu primeiro trabalho
pós encerramento da trilogia Yeshuah. Não acabou acontecendo. Contrato e
publicação já pré-definidas com a editora Polvo de Lisboa/Portugal, algo realmente
bloqueou meu processo de criação desta hq. Algo impediu que eu mergulhasse
nesse profundo mar que era conceber visualmente o roteiro do André. O pré-julgamento
cristão de nós ocidentais, impedia num primeiríssimo momento um mais
aprofundado entendimento deste roteiro. Por aí, vale dizer, ou melhor confessar
que a coisa realmente não prosseguiu, embora claro, os trabalhos de
quadrinização já vinham acontecendo, mas num processo lentíssimo e, nesse tempo
acabei lançando Dedos Mágicos, Questão de Karma e Cadernos de Viagem. É claro,
que conhecedor da infindável qualidade de narrador de histórias que o André tem
e, principalmente um talento de parir personagens demasiadamente comuns,
corriqueiros e riquíssimos em suas personalidades e psicologias a serem
estudadas (estudiosos dos quadrinhos atentem a isso!), muito me incomodava o
fato de não assumir os trabalhos com fervor e disposição desta hq, até porque o
meu parceiro e velho e querido amigo esperava isso de mim.
Um fato raro onde me
arrisco a dizer que provavelmente seja a primeira e única vez que tenha feito
até o momento, reli o roteiro umas quatro vezes. Li sequências espaçadas,
enfim, fui os poucos percebendo qual era o discurso, as metáforas, os
simbolismos que estavam ocultos nos personagens, em seus sentimentos, no
cenário em si. Muita coisa acredito que puro entendimento meu e claro, isso é
que valeu para que mais que virar o ilustrador do roteiro, eu virasse realmente
um coautor, que é assim que tem que ser.
Não quero me estender em minhas
percepções deste roteiro e seus sutis momentos, às vezes fortes, às vezes
delicados. Isso é fundamental que seja deixado e principalmente permitido para cada leitor. Um
trabalho riquíssimo do André. Quando comentei anteriormente da questão do
pré-julgamento, justamente me vi caindo na obviedade de querer escrever ou
desenhar roteiros onde o discurso pacífico vinda direto como uma bandeira
tremulando, pouco percebendo que as coisas podem vir às vezes muito mais fortes
do que as outras explicitadas. Um velho criador como eu, não percebendo essa
lei, num primeiro momento, porém, atento para aprender. Uma aula e um aprendizado que me fez
mergulhar então, como queria, profundamente na narrativa visual de Olimpo
Tropical. O resultado foi mais que feliz para mim, para o André, para os
leitores. A obra vem seguindo, desde o seu lançamento, no final de dois mil e
dezessete durante o Comic Con Experience, uma história muito feliz, tanto em
Portugal, onde foi publicada inicialmente, quanto aqui e com certeza, pelos caminhos
que for seguir no futuro.
Ficou interessado na leitura deste meu mais recente trabalho? Na loja virtual do meu site está à venda, clicando aqui.
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Delírio, medo e tormento na mente de Biúca, o protagonista de "Olimpo Tropical" |
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