Capa da segunda revista da personagem |
Acredito que não exista uma regra de fato
para se criar. Criar um roteiro. Muita gente tem seus métodos e nele mantém seu
ritmo de criação constante. No caso hoje falo com vocês de roteiro de uma
História em Quadrinhos, claro, ponto base deste blog. Para mim, sempre
trabalhei das mais diversas formas possíveis e para que melhor entendam, darei
alguns exemplos: a trilogia Yeshuah - tinha uma linha mestra, uma espinha
dorsal que era a história de Jesus em si e como não havia intenção de modificar
a “sinopse original”, digamos assim, fui criando o roteiro à partir de cada cena que ia desenvolvendo, ou seja, do início até o fim do roteiro que gerou quase
quinhentas páginas de quadrinhos, tudo
foi criado à partir de cada bloco, cada sequência, isso ao longo de treze anos
que foi o tempo que levei para produzir toda a trilogia. Ou seja, muita coisa,
ou arrisco a dizer que quase que em sua totalidade das coisas pensadas para o
último livro, Onde tudo está, lá atrás, enquanto trabalha no roteiro e
desenhos simultaneamente de Assim em cima assim embaixo, o primeiro livro,
não haviam sido pensadas. Foram acontecendo no decorrer da criação do texto e
arte da terceira parte. Particularmente acho essa experiência de criação muito
interessante e desafiadora, porém, não é uma regra na minha forma de escrever
roteiros. Claro que esse processo funciona comigo porque sou o autor do texto e
da arte, então a criação simultânea torna-se um interessante processo.
Alguns
outros trabalhos meus como Questão de Karma (desenhado pelo Alexandre
Santos), Histórias do Clube da Esquina, a minissérie Depois da meia-noite e Cadernos de Viagem, para citar alguns, tiveram seus processos muito
semelhantes e mais tradicionais, digamos assim, ou seja, escrevi o roteiro na
íntegra, da primeira página à última e aí depois fui trabalhar nos desenhos. Meu
mais recente roteiro que breve pretendo começar os seus desenhos, As tentações
de Santo Antão, também trabalhei dentro deste processo tradicional, embora
algo no conceito foi repensado bem posteriormente e curiosamente não altera
nada do texto, mas sim da concepção visual. Experiências fantásticas.
Enfim,
toda essa apresentação na verdade é para falar de O gran circo Orgasmático,
segunda revista da série da Tianinha, lançada em fevereiro. Nessa nova aventura
da loira, ela ainda está no Nepal (confira as postagens anteriores, onde
explico sobre essa nova fase da personagem), porém pretende sair do país para
conhecer o resto do mundo. Sem dinheiro para esse salto, busca um velho amigo
residente em Katmandu, capital do país, para pedir um auxílio, que lhe é negado
devido a antigas rusgas, a má fama da Tianinha, ainda a precede. Nesse caminho,
a loira encontra Thelonius Blasco, misteriosa figura, dono do tal Gran Circo
Orgasmático do título. Convidada a trabalhar no respectivo circo, Tianinha
descobre que se trata de um show que propõe uma liberação sexual da plateia e
dos artistas, através da inalação de um gás alucinógeno que mistura entre
outras coisas hormônios femininos e masculinos. Apesar deste aparente
espetáculo de interação demasiada entre público e as figuras que comandam o
espetáculo, jovens, homens e mulheres, todos sensuais e muitos dispostos ao
sexo, Tianinha desconfia que toda essa parafernália sexual nada mais é que um
subterfúgio para de certa forma alimentar Thelonius Blasco, talvez, um tipo de
vampiro sexual. Porém, como fora convidada a trabalhar no circo pelo próprio,
ela resolve comprar a briga.
Quando foi pensado inicialmente, este roteiro,
apresentava algumas ideias, como Thelonius ser um tipo de antagonista da
Tianinha, para essa e futuras aventuras. Mas a proposta desta série é
justamente não ter um fio condutor, ou seja, o que foi pensado para o primeiro
número, não é necessariamente o que se seguiu para o segundo (embora sim, há
ligações entre as edições), então devo confessar que a essa altura já não posso
garantir para vocês que Thelonius irá continuar a ser simplesmente um
antagonista, acredito que há um campo maior e mais interessante a ser
explorado. Os roteiros das revistas da Tianinha também são escritos da forma
tradicional, ou seja, escrevo da primeira à última página e depois vou para
prancheta desenhar, porém, assim como a personagem, quando abandona o templo
encravado numa montanha do Nepal para seguir o rumo de seu destino sem saber ao
certo o que virá pela frente, venho trabalhando assim seus roteiros. Fechei a
história da segunda edição, que não se completa (olha o spoiler aí!!), porém,
sem saber ao certo que rumo essa mesma história tomará na terceira edição e nem
mesmo se irá ter seu desfecho. Claro que muita coisa vai somando a essa
experiência de criação e uma delas é saber da reação dos leitores a cada
edição. Se loira Tianinha não sabe do seu futuro, experenciando a cada edição
suas aventuras, o mesmo posso lhes dizer deste criador aqui. E isso é bom
demais.
Nesta nova fase da personagem, alguns velhos hábitos não existem mais |
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