Em meados de 2013, finalmente
encerrava a trilogia Yeshuah. Não me recordo que período foi exatamente, mas
provavelmente foi em meados do ano, junho ou julho. A melhor forma de
recuperar o fôlego após treze anos concentrados sobre as quase quinhentas
páginas que fizeram essa trilogia, era limpar a prancheta e começar a trabalhar
em um novo projeto: fôlego eternamente renovado. Aquela deliciosa sensação de
findar uma trajetória e o ineditismo de uma nova. André Diniz, roteirista e
desenhista de mão cheia e de talento inigualável, e antes de tudo amigo de
longuíssima data (isso para não entregar a idade de ambos), veio naquele bom e
velho jeito sossegado e discreto de ser, propor-me essa nova obra a se
trabalhar na minha prancheta limpa. A coisa vinha sem nome inicialmente, onde
bem depois, numa mesa de padaria ao lado de sua casa aqui na Vila
Mariana (hoje, Diniz mora em terras lusitanas), com ajuda de sua esposa
Marcela, conseguimos parir o título: Olimpo Tropical.
André Diniz, roteirista |
Escadaria no Morro da Providência, em foto de Maurício Hora, que foi um dos pontos de inspiração para "Olimpo Tropical" |
Mas por que levamos tanto tempo para fazermos outro trabalho juntos? Primeiramente
porque cada um teve e tem seus projetos solos, pessoais e outra, porque usando
aquele velho bordão, o tempo sabe o que faz. André, como estava dizendo, veio me
propor uma nova parceria em uma história sua inspirada em uma de suas muitas
andanças pelo Morro da Providência , primeira favela carioca e localizada na região central da cidade. André nesse período estava fazendo a biografia de
Maurício Hora, fotógrafo de prestígio internacional e morador desde que nasceu
do referido Morro da Providência. Enfim, nas andanças pela favela para pegar
depoimentos e imagens para compor a biografia desenhada do fotógrafo, topou com
uma cena curiosíssima, para André pelo menos, não acostumado a isso, ao
contrário dos moradores: um garoto, um menino, sentado no topo de uma escadaria
imensa da favela, totalmente largado em uma cadeira, entediado, com uma
metralhadora, acho, não me recordo agora o que me contou então. O garoto estava
vigiando do topo da escadaria, caso algum grupo da polícia subisse para atacar
o tráfico da favela. A visão daquele moleque com tédio de um cotidiano
violento, sacudiu sua cabeça, foi um impacto. E qual a melhor forma de fazer
esse sentimento criar seu caminho? Gerar uma história. Criar uma História em
Quadrinhos.
Morro da Favela, a obra de André onde conta a biografia do
fotógrafo Maurício Hora, havia sido lançada há alguns poucos anos antes e
alcançado grande sucesso de público e crítica aqui no Brasil e começava a
trilhar seu caminho fora do país, com publicação na França e Inglaterra (hoje
já somam Portugal e Polônia, que me recordo), então, a intenção era justamente
ter essa história do “menino entediado e sua arma” contada visualmente por
outro desenhista. Esse desenhista seria eu.
Na próxima postagem, continuarei
contando um pouco mais do processo de criação deste meu mais recente
lançamento, Olimpo Tropical.
2 comentários:
Estou curioso pra conferir. Estive dando uma olhada numa resenha do livro e pude ver algumas páginas. Os desenhos estão maravilhosos, e o tema da história é atual, verdadeiro e muito interessante.
Opa, Chris, obrigado pelo carinho. Realmente essa hq vem tendo um ótimo retorno da crítica e dos leitores no geral, tanto na edição brasileira, quanto portuguesa. Quer dizer, a gente só fica feliz.
Abração.
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