Cresci dentro de um campo que seu Laudo Ferreira, pai, me criou onde não havia, não se imaginava de jeito algum, qualquer tipo de preconceito, cresci com a absoluta ciência de que somos todos iguais e que as diferenças apenas fazem parte de um mundo todo múltiplo, apenas isso. Cresci sem nunca ter pensando que meu pai era negro, minha mãe branca, e eu com uma suave mistura que os anos foram transformando. Meu convívio posteriormente com essas outras pessoas negras... afro-descendentes, muito me ajudou a reafirmar a base humana e absoluta de meu pai e essa base que germinei em Gabriel, meu filho. Nesse dia de hoje, da consciência negra, onde um demônio configurado de ser humano, exala sua ignorância não contra negros, mas contra o princípio da alma humana, rasgando um cartaz que mostra a verdade da relação polícia e negros, torna-se fundamental a cada dia que essa consciência se reforce, não só pelos negros, mas pelos gays, pelas mulheres, pelos pobres, por aqueles que a dita raça verdadeira (seja ela qual for) sempre coloca à margem. Estupidez sem fim, sem limites, não entendendo o óbvio que quando matamos ou ofendemos um negro, um homossexual, um mendigo, ou seja quem for, estamos ofendendo a nossa própria cara perante o espelho, nossa própria alma e nos enterrando em algo que não deveríamos de hipótese alguma querer ir. Dando alimento para aquilo que nos devora. Olho a lembrança de meu pai, e penso que a mistura é a forma sempre mais sublime de entendermos que somos umas coisa só e que cor e outras coisas que nos separam deveria ser simplesmente aquilo que nos aproxima.
20 de novembro de 2019
O DIA DA CONSCIÊNCIA DE TODOS NÓS
O senhor Laudo Ferreira, meu pai, figura austera, bravo, porém muito honesto, que retratei no meu livro “Cadernos de Viagem” como uma forma de dizer do meu amor por ele, algo que quando era vivo nunca nos dissemos, era o que hoje se chamaria da cor negra. Ele era realmente. Assim como seus irmãos eram, tanto na pele como como no cabelo. Suas tias que conheci na minha infância eram mais escuras que ele. Uma família negra. Minha professora de primário, que fora professora do meu pai também, figura tão importante na minha primeira fase da vida, inclusive sendo a primeira pessoa a descobrir meu talento para desenho (e posteriormente que eu era daltônico), também era negra, dona Eulina... Tive o prazer de homenageá-la recentemente no livro “O santo Sangue” na pele da personagem “bruxa”, tão bem retratada pelo parceiro Marcel Bartholo, quase como que psicografando o rosto dela. Dona Eulina, com certa fazia suas alquimias na vida, eu de certa forma, sou resultado dessas magias. Há uns bons anos atrás, tive o imenso prazer de ser amigo da Dona Nathalia, preta velha, mãe de santo, dona de terreiro, dona de uma escola de samba em Diadema, onde colaborei alguns anos aprendendo e desenhando os figurinos de sua escola. Ficamos amigos profundos rapidamente, assim como de toda sua família, filhas e netas (o matriarcado imperava ali) e agregados, como seu querido Genro, o Nando, e foi com ele que criei o costume de chamar a Dona Nathalia de “preta velha” e foi por causa desse jeitão carinhoso de chamá-la, que uma ocasião muito pra frente, após o falecimento dessa tão querida amiga, que tive uma muito engraçada comprovação que além do véu, existe muita coisa, mas isso é um outro papo.
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