Kristel foi à musa de toda uma
geração de meninos, rapazes e homens, e eu estou nessa, claro, todos embalados
mais por insinuações, olhares, uma coxa ali, um peito aqui, do que realmente
algo explícito. Vale lembrar que estrelas como Sylvia Kristel, por exemplo,
ganhavam na sensualidade e também no charme, diferente e muito das nossas
modernas popozuadas que às vezes me fazem desanimar de apreciar pelo excesso,
excesso mesmo, esse é o termo. Então, ao saber de seu falecimento hoje, mais
que lastimar, enfim, morreu jovem, 60 anos, lembrei o quanto sua figura, seu
corpo, seu charme, e seus filmes principalmente, me marcaram naquela época. O
cartaz de seu primeiro Emmanuelle, lembro, mexia profundamente com minha libido
de menino ansioso pelas coisas, uma imagem sensual, forte e principalmente
estilosa.
Mas enfim, eram os anos 70 e embora
no Brasil, vivêssemos a plena ditadura, alguma coisa do cinema erótico “era”
permitido, pois até então, acredito eu, o sexo não significava tanta ameaça ao
regime autoritário, provando o quão estúpidos e ignorantes eram os senhores
generais da época, mas isso é outra história. Então me lembro bem da infinidade
de filmes nacionais, as deliciosas pornochanchadas e das revistas masculinas
“Peteca”, “Status”, “Close” e por aí vai. Só peito, uma ou outra bunda e nada
de pelos pubianos como disse, e a alegria era geral, mesmo assim.
Ao contrário de muitos pré-adolescentes,
12/13 anos que cresceram lendo gibis da Disney, Maurício de Souza e a turma da
Mônica, coisas desse tipo, por algum mistério da natureza, se é que a natureza
tem algo a ver com isso, desde muito pequeno, o impulso sexual se tornou
latente em mim, não nego isso e não sei como explicar, então minha leitura de
quadrinhos basicamente era muito terror nacional onde tinha nos desenhos do
mestre Nico Rosso, fêmeas maravilhosamente desenhadas esbanjando sexo com pouca
ou quase nenhuma roupa. Sempre tive a percepção e ainda hoje a tenho que Nico
Rosso realmente gostava de desenhar essas delícias, não que os outros artistas
não gostassem, mas nele, era algo, pelo menos para mim, latente. Lia outros
gibis, super-heróis, por exemplo, mas era outra coisa, revistas como “Seleções
Terrir”, Drácula e Naiara do Nico Rosso, me tiravam o fôlego e incitavam a
imaginação e claro, lá ia eu querer copiar o traço do mestre.
Como disse, a coisa do sexo veio
cedo comigo...
Nasci em São Vicente , litoral
de São Paulo e como já contei em inúmeras entrevistas, bate-papos, desenho
desde sempre, autodidata, como centenas de desenhistas, fã de quadrinhos,
fazendo, ou melhor, tentando rabiscar algo que poderia então se chamar
quadrinhos, e como toda criança que rabisca suas hq’s, ansiosa de ver um
material seu publicado em algum veículo, jornal ou revista, de grande tiragem,
de grande repercussão, que acabei enviando para o jornal “A Tribuna” de Santos para
um caderno espacial chamado “A Tribuninha”, que pelo nome dá para perceber que
era voltado para o público infantil, uma hq de duas páginas “Inês, ano 2.010
DC”, uma hq “futurista” de ficção-científica, passada no distante ainda ano de
2010, o ano era provavelmente 1974/1975, tinha lá meus 10,11 anos. Essa hq
que enviei era literalmente copiada da personagem “Barbarella” do Jean Claude
Forrest, pois se não me falha a memória, o quadrinho dela, a única versão
nacional publicada até hoje e famosa por ter sido traduzida pela Jô Soares
havia caído em minhas mãos de menino havido por seios, coxas, corpos sensuais,
cabelos longos e loiros (sempre fui atraído pelo gênero). Quando vi o álbum, a
coisa caiu com uma bomba: “Vou criar a minha Barbarella!!”.
Ao mesmo aquele moleque apreciador
das belas formas femininas, ainda não entendia muito bem sobre o que se fazer
com uma mulher na cama e muito provavelmente fui descobrir algum tempinho
depois ainda o milagre do sexo solitário, então a coisa caminhava mesmo no
campo da pura contemplação. Enfim, a pseudo-história em quadrinhos feita com
nanquim e pena mosquitinho, copiada da clássica heroína francesa, inclusive na
famosa sequencia onde ela transa com um robô, foi enviada para esse suplemento
infantil. Semanas se passaram, aumentando a cada dia a ansiedade daquele menino
desejoso de ver suas páginas impressas naquele jornal “famoso”, de grande
tiragem, então, finalmente, para minha absoluta surpresa e frustração, lá pela
quinta ou sexta semana, no editorial do suplemento havia uma nota do editor que
se intitulava “Caro L.F.J.” e daí adiante discorria um breve texto onde
simplesmente acaba com minha pessoa, pois julgava se tratar eu, um adolescente,
de 18/20 anos, querendo publicar seu trabalho em qualquer lugar que fosse,
claro, ele estava correto, só errou na faixa etária, mas sua bronca era pelo
conteúdo erótico adulto que eu enviara para um suplemento infantil, óbvio que o
senhor editor não imaginaria se tratar de um menino de 10/11 anos, jamais. Anos
70 e a mentalidade dos “mais velhos” era outra, amigos. Claro que desenhava
bem, mas para um menino de dez, onze anos com aptidão para desenho, que fique
entendido. Esse mal entendido gerou uma tremenda bronca, tremenda, por parte do
meu pai, seus olhos faiscando de raiva é algo que demorei muito para esquecer, e
que só depois de muitas terapias pude deixar em seu devido lugar no passado.
É óbvio que minha fissura pela
figura feminina só foi aumentando, haviam os quadrinhos de terror e suas fêmeas
deliciosamente fatais, revistas masculinas, que conseguia comprar em bancas de
amigos (afinal, pra que servem os amigos?!) e as pornochanchadas (sim, também
tive amigos que trabalham em cinemas). Lembro-me até hoje dos primeiros seios
que vi em grande tela: Sandra Barsotti. Um momento raro, mágico, dois peitos
bonitos, durinhos, daquela musa loira, dos distantes anos 70. Contemplação
pura, acreditem. Êxtase puro. Nos meus quadrinhos feitos em casa, com a delicia
do prazer que só um jovem sem preocupações pode ter, muitas outras coisas dentro
dessa linha sensual fiz e muitas ainda tenho guardadas em arquivos.
Enfim, aí veio a adolescência e com
ela tudo que é de direito para um jovem nessa fase, descobertas, frustrações,
alegrias, desapontamentos, tudo. E pensar então na morte dessa musa do cinema
erótico na data de hoje, por um breve momento trouxe-me a lembrança dela, de
sua relevância e de outras tantas musas daquele período.
Por fim, claro que quando já nos
anos 2.000 tive a oportunidade de gerar, parir, criar uma certa musa dos
quadrinhos eróticos nacionais, a Tianinha, nada mais justo que render homenagem
a esses ícones dos anos 70 que muito me marcaram, dando um certo tom de
pornochanchada em suas histórias. Quem leu pode comprovar.
Então, é isso, querida minha e de
tantos, senhora Sylvia Kristel, obrigado.
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