Kristel foi à musa de toda uma
geração de meninos, rapazes e homens, e eu estou nessa, claro, todos embalados
mais por insinuações, olhares, uma coxa ali, um peito aqui, do que realmente
algo explícito. Vale lembrar que estrelas como Sylvia Kristel, por exemplo,
ganhavam na sensualidade e também no charme, diferente e muito das nossas
modernas popozuadas que às vezes me fazem desanimar de apreciar pelo excesso,
excesso mesmo, esse é o termo. Então, ao saber de seu falecimento hoje, mais
que lastimar, enfim, morreu jovem, 60 anos, lembrei o quanto sua figura, seu
corpo, seu charme, e seus filmes principalmente, me marcaram naquela época. O
cartaz de seu primeiro Emmanuelle, lembro, mexia profundamente com minha libido
de menino ansioso pelas coisas, uma imagem sensual, forte e principalmente
estilosa.
Mas enfim, eram os anos 70 e embora
no Brasil, vivêssemos a plena ditadura, alguma coisa do cinema erótico “era”
permitido, pois até então, acredito eu, o sexo não significava tanta ameaça ao
regime autoritário, provando o quão estúpidos e ignorantes eram os senhores
generais da época, mas isso é outra história. Então me lembro bem da infinidade
de filmes nacionais, as deliciosas pornochanchadas e das revistas masculinas
“Peteca”, “Status”, “Close” e por aí vai. Só peito, uma ou outra bunda e nada
de pelos pubianos como disse, e a alegria era geral, mesmo assim.

Como disse, a coisa do sexo veio
cedo comigo...

Ao mesmo aquele moleque apreciador
das belas formas femininas, ainda não entendia muito bem sobre o que se fazer
com uma mulher na cama e muito provavelmente fui descobrir algum tempinho
depois ainda o milagre do sexo solitário, então a coisa caminhava mesmo no
campo da pura contemplação. Enfim, a pseudo-história em quadrinhos feita com
nanquim e pena mosquitinho, copiada da clássica heroína francesa, inclusive na
famosa sequencia onde ela transa com um robô, foi enviada para esse suplemento
infantil. Semanas se passaram, aumentando a cada dia a ansiedade daquele menino
desejoso de ver suas páginas impressas naquele jornal “famoso”, de grande
tiragem, então, finalmente, para minha absoluta surpresa e frustração, lá pela
quinta ou sexta semana, no editorial do suplemento havia uma nota do editor que
se intitulava “Caro L.F.J.” e daí adiante discorria um breve texto onde
simplesmente acaba com minha pessoa, pois julgava se tratar eu, um adolescente,
de 18/20 anos, querendo publicar seu trabalho em qualquer lugar que fosse,
claro, ele estava correto, só errou na faixa etária, mas sua bronca era pelo
conteúdo erótico adulto que eu enviara para um suplemento infantil, óbvio que o
senhor editor não imaginaria se tratar de um menino de 10/11 anos, jamais. Anos
70 e a mentalidade dos “mais velhos” era outra, amigos. Claro que desenhava
bem, mas para um menino de dez, onze anos com aptidão para desenho, que fique
entendido. Esse mal entendido gerou uma tremenda bronca, tremenda, por parte do
meu pai, seus olhos faiscando de raiva é algo que demorei muito para esquecer, e
que só depois de muitas terapias pude deixar em seu devido lugar no passado.

Enfim, aí veio a adolescência e com
ela tudo que é de direito para um jovem nessa fase, descobertas, frustrações,
alegrias, desapontamentos, tudo. E pensar então na morte dessa musa do cinema
erótico na data de hoje, por um breve momento trouxe-me a lembrança dela, de
sua relevância e de outras tantas musas daquele período.
Por fim, claro que quando já nos
anos 2.000 tive a oportunidade de gerar, parir, criar uma certa musa dos
quadrinhos eróticos nacionais, a Tianinha, nada mais justo que render homenagem
a esses ícones dos anos 70 que muito me marcaram, dando um certo tom de
pornochanchada em suas histórias. Quem leu pode comprovar.
Então, é isso, querida minha e de
tantos, senhora Sylvia Kristel, obrigado.
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