18 de outubro de 2012

SYLVIA KRISTEL E UM SAFADO PRECOCE


              Hoje, dia 18 de outubro, a imprensa do mundo todo noticiou a morte da atriz Sylvia Kristel, que ficou famosa por dar vida à personagem Emmanuelle nas telas do cinema, isso lá nos idos anos 70. A turma de minha geração com certeza sabe quem é e a rapaziada mais nova, ligada em cultura, com certeza deve saber, mesmo que alguma coisa.
           Kristel foi à musa de toda uma geração de meninos, rapazes e homens, e eu estou nessa, claro, todos embalados mais por insinuações, olhares, uma coxa ali, um peito aqui, do que realmente algo explícito. Vale lembrar que estrelas como Sylvia Kristel, por exemplo, ganhavam na sensualidade e também no charme, diferente e muito das nossas modernas popozuadas que às vezes me fazem desanimar de apreciar pelo excesso, excesso mesmo, esse é o termo. Então, ao saber de seu falecimento hoje, mais que lastimar, enfim, morreu jovem, 60 anos, lembrei o quanto sua figura, seu corpo, seu charme, e seus filmes principalmente, me marcaram naquela época. O cartaz de seu primeiro Emmanuelle, lembro, mexia profundamente com minha libido de menino ansioso pelas coisas, uma imagem sensual, forte e principalmente estilosa.
          Mas enfim, eram os anos 70 e embora no Brasil, vivêssemos a plena ditadura, alguma coisa do cinema erótico “era” permitido, pois até então, acredito eu, o sexo não significava tanta ameaça ao regime autoritário, provando o quão estúpidos e ignorantes eram os senhores generais da época, mas isso é outra história. Então me lembro bem da infinidade de filmes nacionais, as deliciosas pornochanchadas e das revistas masculinas “Peteca”, “Status”, “Close” e por aí vai. Só peito, uma ou outra bunda e nada de pelos pubianos como disse, e a alegria era geral, mesmo assim.
          Ao contrário de muitos pré-adolescentes, 12/13 anos que cresceram lendo gibis da Disney, Maurício de Souza e a turma da Mônica, coisas desse tipo, por algum mistério da natureza, se é que a natureza tem algo a ver com isso, desde muito pequeno, o impulso sexual se tornou latente em mim, não nego isso e não sei como explicar, então minha leitura de quadrinhos basicamente era muito terror nacional onde tinha nos desenhos do mestre Nico Rosso, fêmeas maravilhosamente desenhadas esbanjando sexo com pouca ou quase nenhuma roupa. Sempre tive a percepção e ainda hoje a tenho que Nico Rosso realmente gostava de desenhar essas delícias, não que os outros artistas não gostassem, mas nele, era algo, pelo menos para mim, latente. Lia outros gibis, super-heróis, por exemplo, mas era outra coisa, revistas como “Seleções Terrir”, Drácula e Naiara do Nico Rosso, me tiravam o fôlego e incitavam a imaginação e claro, lá ia eu querer copiar o traço do mestre.
           Como disse, a coisa do sexo veio cedo comigo...
           Nasci em São Vicente, litoral de São Paulo e como já contei em inúmeras entrevistas, bate-papos, desenho desde sempre, autodidata, como centenas de desenhistas, fã de quadrinhos, fazendo, ou melhor, tentando rabiscar algo que poderia então se chamar quadrinhos, e como toda criança que rabisca suas hq’s, ansiosa de ver um material seu publicado em algum veículo, jornal ou revista, de grande tiragem, de grande repercussão, que acabei enviando para o jornal “A Tribuna” de Santos para um caderno espacial chamado “A Tribuninha”, que pelo nome dá para perceber que era voltado para o público infantil, uma hq de duas páginas “Inês, ano 2.010 DC”, uma hq “futurista” de ficção-científica, passada no distante ainda ano de 2010, o ano era provavelmente 1974/1975, tinha lá meus 10,11 anos. Essa hq que enviei era literalmente copiada da personagem “Barbarella” do Jean Claude Forrest, pois se não me falha a memória, o quadrinho dela, a única versão nacional publicada até hoje e famosa por ter sido traduzida pela Jô Soares havia caído em minhas mãos de menino havido por seios, coxas, corpos sensuais, cabelos longos e loiros (sempre fui atraído pelo gênero). Quando vi o álbum, a coisa caiu com uma bomba: “Vou criar a minha Barbarella!!”.
          Ao mesmo aquele moleque apreciador das belas formas femininas, ainda não entendia muito bem sobre o que se fazer com uma mulher na cama e muito provavelmente fui descobrir algum tempinho depois ainda o milagre do sexo solitário, então a coisa caminhava mesmo no campo da pura contemplação. Enfim, a pseudo-história em quadrinhos feita com nanquim e pena mosquitinho, copiada da clássica heroína francesa, inclusive na famosa sequencia onde ela transa com um robô, foi enviada para esse suplemento infantil. Semanas se passaram, aumentando a cada dia a ansiedade daquele menino desejoso de ver suas páginas impressas naquele jornal “famoso”, de grande tiragem, então, finalmente, para minha absoluta surpresa e frustração, lá pela quinta ou sexta semana, no editorial do suplemento havia uma nota do editor que se intitulava “Caro L.F.J.” e daí adiante discorria um breve texto onde simplesmente acaba com minha pessoa, pois julgava se tratar eu, um adolescente, de 18/20 anos, querendo publicar seu trabalho em qualquer lugar que fosse, claro, ele estava correto, só errou na faixa etária, mas sua bronca era pelo conteúdo erótico adulto que eu enviara para um suplemento infantil, óbvio que o senhor editor não imaginaria se tratar de um menino de 10/11 anos, jamais. Anos 70 e a mentalidade dos “mais velhos” era outra, amigos. Claro que desenhava bem, mas para um menino de dez, onze anos com aptidão para desenho, que fique entendido. Esse mal entendido gerou uma tremenda bronca, tremenda, por parte do meu pai, seus olhos faiscando de raiva é algo que demorei muito para esquecer, e que só depois de muitas terapias pude deixar em seu devido lugar no passado.
           É óbvio que minha fissura pela figura feminina só foi aumentando, haviam os quadrinhos de terror e suas fêmeas deliciosamente fatais, revistas masculinas, que conseguia comprar em bancas de amigos (afinal, pra que servem os amigos?!) e as pornochanchadas (sim, também tive amigos que trabalham em cinemas). Lembro-me até hoje dos primeiros seios que vi em grande tela: Sandra Barsotti. Um momento raro, mágico, dois peitos bonitos, durinhos, daquela musa loira, dos distantes anos 70. Contemplação pura, acreditem. Êxtase puro. Nos meus quadrinhos feitos em casa, com a delicia do prazer que só um jovem sem preocupações pode ter, muitas outras coisas dentro dessa linha sensual fiz e muitas ainda tenho guardadas em arquivos.
          Enfim, aí veio a adolescência e com ela tudo que é de direito para um jovem nessa fase, descobertas, frustrações, alegrias, desapontamentos, tudo. E pensar então na morte dessa musa do cinema erótico na data de hoje, por um breve momento trouxe-me a lembrança dela, de sua relevância e de outras tantas musas daquele período.
           Por fim, claro que quando já nos anos 2.000 tive a oportunidade de gerar, parir, criar uma certa musa dos quadrinhos eróticos nacionais, a Tianinha, nada mais justo que render homenagem a esses ícones dos anos 70 que muito me marcaram, dando um certo tom de pornochanchada em suas histórias. Quem leu pode comprovar.
            Então, é isso, querida minha e de tantos, senhora Sylvia Kristel, obrigado.

           

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