26 de novembro de 2014

OUVINDO E SENTINDO AS HISTÓRIAS

                
             No mês de outubro, estive juntamente com os cartunistas Mário Mastrotti, Sergio Morettini e Luigi Rocco, trabalhando no XXXII Congresso Brasileiro de Psiquiatria, realizado este ano em Brasília. 
             Nossa ação foi no stand da Libbs, laboratório farmacêutico, consistiu em retratar em três cenas, três quadros, momentos significativos das pessoas que estivessem presentes no stand da empresa, visitando, na sua grande maioria, psiquiatras: profissionais, estudantes e residentes. As pessoas sentavam nas mesas onde cada um de nós estava posicionado e rapidamente contava coisas relevantes da sua história, fatos importantes e nós, dentro de um limite de tempo, reproduzíamos nesses três quadros.
             Para nós, Mário, Morettini, Luiggi e eu, acostumados até então, a ação de fazer caricaturas ao vivo em eventos e festas, essa ação foi algo completamente novo, inusitado, proporcionando outro estímulo e a criação de uma nova técnica para trabalhar com desenho ao vivo, claro que o fato de todos trabalharem com histórias em quadrinhos, cartuns e tirinhas, ajudou muito e foi a principal base para a ação. Neste caso, em pouquíssimos minutos, tínhamos que ouvir a história que e pessoa contava, formular as cenas a serem desenhadas e fechar a história.
            Em Brasília, foram quatro dias de trabalho, de quase dez horas diárias, e posteriormente em novembro, repetimos a ação em um congresso de cardiologia em Curitiba, para o mesmo contratante. Para mim, especificamente falando, tratou-se de uma experiência nova, emocionante, pois foi muita gente que passou pela minha mesa, muitas histórias, e algumas, acredito que uma boa maioria, histórias muito fortes, de superação, de crença num ideal, de amor à profissão. Houve momentos em que só pelo fato da pessoa sentar-se e começar à pensar no que iria me contar já trazia emoção a ela e posteriormente a mim. No final do trabalho do primeiro dia, principalmente, além de exausto, eu estava de espírito completamente suspenso em algo difícil de compreender, um êxtase, uma sensação de transcendência a algo maior que eu, pois havia sido muita história ouvida, muita emoção recebida das pessoas, compartilhada. Uma experiência fabulosa para um criador, um artista, acostumado a só contar histórias para os outros, afinal, essa é a função de nós, criadores de quadrinhos, escritores, pintores, cineastas, levar nossa emoção aos outros. Receber emoção, receber histórias fortes que te envolvem, acaba nos transformando, nos tornando simples e calados ouvintes, nos fazendo entender como a vida é maior, como ela é uma grande aventura e principalmente, entendendo que todos fazemos parte dela. Isso sem dúvida foi marcante, acredito que para todos os outros que estiveram comigo.
              Um eterno aprendizado que cada vez mais torna a experiência humana e artística, uma coisa só. Fascinante.

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