16 de setembro de 2013

AINDA HOJE


       
 Algumas hq’s que se faz possuem uma vida interessante, que ultrapassam aquele período de sua criação e posteriormente publicação, em especial, falo de quadrinhos curtos feitos para coletâneas de publicações independentes ou editoriais. Há trabalho que depois de muitos, muitos anos, quando se volta a olhá-lo a gente sente que ele mantém uma vitalidade boa de ler (pelo menos é uma impressão minha) e que tirando esse ou aquele ponto, mantém-se ainda presente, sem ficar datado.
           “A loucura”, História em Quadrinhos que desenhei no início dos anos 90 e, como sempre, não lembro ao certo quando, é um exemplo disso. Gosto de poder olhá-la, ler sua história, digo isso sem falsa modéstia, apenas e muito também, satisfeito com o resultado obtido. Feita em parceria com o um saudoso parceiro, Paulo Cesar Will, infelizmente falecido há alguns anos atrás, a hq conta sobre um vilarejo que é assombrado por uma misteriosa entidade autodenominada “demônio da perversidade”. Paulo Will, foi um querido parceiro da época dos fanzines, lá pelos distantes anos 80 e início dos 90 com o qual produzimos muita coisa, tinha uma pegada muito mística em seus enredos e confesso que na ocasião não tinha muito gabarito, muita bagagem para estar no nível de suas ideias, pois era muito jovem e alheio a algumas coisas e, curiosamente, essa linha mística é a tônica de meus atuais trabalhos, embora caminhando por outras veredas, alicerçado em experiências pessoais.
          
  Nesse período que desenhei “A loucura”, estava namorando o projeto de transpor para os quadrinhos o antológico Zé do Caixão do cineasta José Mojica Marins, estava muito interessado no terror, no trash e subgêneros e nessa mesma época conheci o cinema expressionista alemão que me tomou por completo, filmes como “Fausto”, “Nosferatu”, “A caixa de Pandora” e muito principalmente “O gabinete do Dr. Caligari” me trouxeram outras perspectivas de enxergar uma história. Como bom frequentador de teatro que sempre fui, nesse período, ou um pouco antes talvez, tomei contato com peças de Antunes Filho e Gerald Thomas e ambos bebiam muito dessa fonte no visual de seus espetáculos e enfim, acabei misturando todas essas
referências na cabeça e achei que seria interessante, uma nova experiência, tentar usar de alguns elementos do cinema expressionista numa história em quadrinhos: coisas como figuras humanas com olhos marcados demasiadamente de preto, gestos bruscos, um forte claro-escuro e cenários propositalmente falsos (como no “Gabinete do Dr. Caligari”.), tortos, com um clima surreal, tudo está em “A loucura”, numa tentativa d’um jovem quadrinista então, de transpor para uma hq algo que o arrebatara.

           Dentro desse campo de tentativas e possibilidades, “A loucura acabou sendo um trabalho que muito me agradou e agrada ainda e que vem de certa maneira, perdurando e existindo ainda, passado vinte anos ou mais. Foi publicado nos anos 90 em alguns zines, depois ficou um bom tempo na net no site Nona Arte, há uns dois anos atrás foi publicado na revista franco-brasileira “Le bouche Du monde” e agora novamente foi publicada numa revista independente, a “Quadritos” antológico publicação alternativa, uma das primeiras e que perdura ainda hoje, editada pelo roteirista Marcos Freitas  das bandas de Porto Alegre. Com o lançamento da edição 10 do “Quadritos”, foi uma tremenda alegria ver esse trabalho novamente circulando para uma nova onde de leitores.
 Quem quiser adquirir esse exemplar que traz também feras do primeiro time como Flávio Colin, Gazy Andraus, Flávio Calazans, o saudoso Joaci Jamis entre outros é só mandar um e-mail para o Marcos Freitas fanzinequadritos@gmail.com  ou mfreitas333@yahoo.com.br


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