Sempre tive
grande atração por velhos filmes de ficção-científica dos anos 50/60. Aquela
coisa toda de espaçonaves que pareciam charutões e heróis com uniformes
parecendo artistas circenses, em alguns casos, mas sempre destemidos e intrépidos,
e os seres de outros planetas, sempre muito estranhos e é claro, dispostos a
todo custo dominar nosso muito sem graça planetinha com suas armas cheias de
poderosos raios não-sei- o que, foi meu deleite de infância, adolescência e
mesmo hoje, vez ou outra. Diversão pura.
Em todos
esses anos que produzo quadrinhos, muita pouca coisa fiz dentro do campo da
ficção-científica, ou melhor dizendo, de histórias passadas no espaço. Difícil
dizer, mas não aconteceu e hoje, os campos de criação são outros, as idéias
para se contar histórias são outras, mas é claro, a curtição por essas velhas
naves movidas a carvão e seus heróis espaciais com sunga por cima da malha
continua.
Há alguns
anos atrás em conversa com o editor e roteirista José Salles da Editora Júpiter
II falava desse meu gosto por gênero de histórias dentro do cinema e, claro,
quadrinhos, Salles apresentou-me algumas histórias de um antigo personagem do
Gedeone Malagola (criador do clássico herói nacional Raio Negro), o Capitão
Astral e a Patrulha do espaço, que tinha uma variação para Capitão Júpiter e a
Patrulha do Espaço, claro, no final o herói basicamente era o mesmo. A
simplicidade desse personagem e suas histórias remetiam a aqueles antigos
filmes de ficção com direito a todos os estereótipos que tanto me divertiam:
planetas misteriosos, seres perigosíssimos, belas garotas para se defender, vilões
maldosos e é claro um herói irreparável de corte de cabelo irreparável também. Maravilhoso.
Coisas de um tempo onde se fazia quadrinhos por pura diversão. Não sou saudosista,
fujo a mil dessas coisas, mas era, foi divertido.
Na ocasião,
o José Salles que freqüentava a casa do Gedeone, que já estava bem doente,
comentou sobre o meu grande interesse nesse personagem antigo. Segundo o próprio
Salles, essa conversa foi um chá de ânimo ao velho mestre dos quadrinhos e em
pouco tempo tive a gigantesca honra de receber em casa uma carta escrita de próprio
punho do Gedeone todo feliz com a possibilidade de ter esse seu personagem
(Capitão Astral e Capitão Júpiter, como disse, ambos afunilam no mesmo)
novamente na ativa; na carta, alguns roteiros inéditos, escritos à mão e vários
estudos do personagem principal e secundários.
Conversei
com o José Salles da possibilidade de fazermos uma edição por sua editora com
esses roteiros inéditos, e é claro, idéia aprovada. A minha intenção desde o início
era fazer algo dentro do meu desenho, mais próximo às trilhas por onde andam
meus quadrinhos, algo mais estilizado, mais cartunesco e assim foi. Criei o
visual do herói, Capitão Astral e dos personagens secundários e comecei à
trabalhar na página do que seria a primeira hq do gibi : O duque de Kent, nome ótimo,
por sinal. Infelizmente minha participação nesse trabalho se limitou a esses
estudos iniciais e uma página feita, projetos paralelos de quadrinhos e serviço
de estúdio, acabou por deixar a produção da revista Patrulha do Espaço durante
um bom tempo na gaveta.
Salles como
editor não poderia deixar a idéia ficar guardada com um desenhista
impossibilitado de tocar o projeto adiante, sendo que queria lançar a revista e
consequentemente render essa homenagem ao velho mestre, encaminhei para ele
esses estudos e primeira página e esse material foi passado para Emir Ribeiro,
criador da antológica loirona e heroína das hq’s nacionais, a Velta. Enfim, o
resultado acabou de sair do forno numa edição bacana da Editora Júpiter II : A
patrulha do espaço, com três histórias e uma delas, inclusive a Duque de Kent.
Gedeone
Malagola faleceu em setembro de 2008, obviamente sem ver esse seu antigo herói
espacial cruzar os céus novamente, agora pelas mãos do Emir. José Salles um
editor de grande coração e apaixonado pelos clássicos quadrinhos nacionais de
uma era que tinha caras como Rodolfo Zalla, Colonesse, Nico Rosso, além do próprio
Gedeone, vem mantendo a memória de todo esse período, inclusive na sua publicação
de linha com a mais famosa criação do velho roteirista/desenhista, Raio Negro,
republicando as antigas hq’s desse cultuado herói, além de produções inéditas
feitas por jovens talentos que colaboram com a editora.
Ações como
que o Salles vem fazendo como o caso desse lançamento especial é mais que louvável
e importante para que obras como do Gedeone não se apaguem definitivamente e,
num momento tão bacana que as Histórias em Quadrinhos nacionais vive, com muita
gente boa despontando, aparecendo, mostrando serviço, é importante espaços de
memória e de criação para manter essas obras ainda vivas e ativas.
Quadrinhos
para pensar, para refletir, para se emocionar e para se divertir também, como
se divertia ontem e como se diverte hoje. E, como diz o meu querido parceiro
nas hq’s Omar: no quadrinho, tudo pode.
Para adquirir “A patrulha do espaço”
Cx. Postal 95 – Jaú/SP
Cep 17201-970
Um comentário:
Ainda não encomendei meu exemplar, mas essa produção é uma iniciativa como Há muito não se fazia no Brasil. Aliás, só o Salles mesmo. Sou fã da Editora Jupiter II, como era e ainda sou do Mestre Gedeone.
Ver essa sua versão do Capitão Astral é como ver aqueles extras de DVD com segredos e bastidores de produção, Laudo. O espaço e seus temas provocam mesmo uma curiosidade nas pessoas. De certo modo aquele clima de desbravamento que se tinha em histórias sobre o velho oeste ou sobre os Bandeirantes está presente nesse gênero, como uma metáfora do que sonhamos à partir do que já vivemos:)
Adorei o texto e achei sensacional essa iniciativa da Júpiter II.
Ter conseguido o Emir pra fazer a arte dessa nova série foi uma sacada GENIAL!!!
Grande Abraço, Doutor Laudo!
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