3 de março de 2011

A BARCA DO INFERNO I

            Adaptações de grandes obras da literatura é um dos seguimentos mais fortes dentro do panorama das histórias em quadrinhos nacionais. Muita coisa tem se feito já há algum tempo. Muita coisa de primeiríssima qualidade. Eu mesmo, já produzi alguma coisa como "O elogio da Loucura" para Escala Educacional, numa parceria com o André Diniz, autor do roteiro adaptado. Trabalho ímpar, delicioso de se fazer, pela atualidade deste texto e do humor que transcorre por ele todo.
            No ano passado, em conversação com as meninas da Editora Peirópolis (Renata Farhat Borges, diretora editorial da Editora Peirópolis e idealizadora desse projeto de adaptações para quadrinhos, e Luciana Tonelli,  coordenadora da coleção) , novamente me vi envolvido com um novo projeto de adaptação para quadrinhos de um texto literário.. Porém, desta vez quem apresentou a proposta fui eu: levar o clássico texto teatral "Auto da Barca do Inferno" do escritor português Gil Vicente para as hq's, numa adaptação moderna, livre, porém, claro, fiel ao texto original.
           Conhecendo outras obras lançadas pela editora, como "Dom Quixote" do Caco Gualhardo, "O corvo" do Luciano Irrthum, "Demônios" do Guazzelli, tinha uma excelente premissa de como a Peirópolis lidava com adaptações para quadrinhos de clássicos, tanto pela questão mais técnica, da edição, quanto da artística, pelos autores selecionados e principalmente pela liberdade, permissão concedida aos mesmos na realização da empreitada de transpôr a obra para hq.


            Vale destacar, pelo menos dentro do meu parecer que, há de certa forma, uma semelhança entre o texto mencionado anteriormente de "O elogio da loucura" e "Auto da barca do Inferno" e que, me desculpem historiadores e estudiosos de literatura, caso esteja cometendo um tremendo equívoco,  foram mais ou menos escritos num mesmo período de nossa história. Acho, volto a dizer.
           Tanto um como o outro descorrem uma mordaz sátira à sociedade contemporânea de seus autores, o que vamos então constatar que em quase nada mudou, passando lá seus quinhentos anos de escrita. No caso mais específico do Auto da Barca do Inferno, desfilam vário tipos da sociedade como o fidalgo, o agiota, a cafetina, o padre, o cidadão que morre em nome de um lugar ao paráíso, entre outros, todos já falecidos e que, chegando a um indeterminado cais, onde estão duas barcas, uma que irá para o céu e outra para o inferno, julgam, óbvio, que irão para os campos divinos. Nada mais atual. Nada mais moderno e daí, o grande tesão, não há outro termo melhor, que poder trabalhar numa adaptação desta, com gosto de quem irá produzir um quadrinho autoral, ou com um parceiro roteirista como um Gil Vicente.


           Com carta branca da Editora para fazer a adaptação, sentamos, eu a editora Luciana e um professor de literatura  para discutirmos pontos do texto. Na verdade, não poderia se fazer uma "adaptação do texto", pois "Auto da barca do inferno" é um "auto", um texto escrito em rimas, com métrica, mexer nessa arquitetura é definitivamente destruir a obra. A opção era transpôr na íntegra o texto e como não se tratava de algo longo, não traria dificuldades.
    
           Na próxima postagem, comento com vocês sobre o desenvolvimento dos personagens.

4 comentários:

Arte da Tribo disse...

Parabéns!
Curioso aqui para saber mais!!!

Um abraço.

Marcio Hoffmann
Arte da Tribo Produções

Eduardo Schloesser disse...

Legal, grande Laudo.
Vou ficar ligado neste seu novo projeto.
Pela página que vi nas fotos promete, hein!?
Um abraço e sucesso cada vez maior.

Carlos Brandino disse...

Opa. virei aqui com mais frequencia,pra ver isto começar a ganhar forma;
meus parabens Laudo

Alessandra E. Oliveira disse...

Cê trabalha muito.... Dorme sonhando com os desenhos?