![]() |
| O deserto de "As tentações de Santo Antão" - fora e dentro de cada um |
O que eu preciso? Eu tenho fome de quê? O que pode calar um pouco essa necessidade? Que afinal, é a minha e de todos.
Quem acompanha minha carreira nesse tempo, sabe e pode exemplificar que fui das mulheres voluptuosas, carnudas de muitas hq’s, tendo seu apogeu na longa série da personagem Tianinha na primeira década dos anos dois mil, até obras grandiosas e talvez... pretensiosas... ??... como Yeshuah, “Cadernos de viagem”, “O santo sangue”, e recentemente a referida hq “As tentações de São Antão”. Sexo, santos e mantras? Mas ainda é na verdade, uma busca. É um olhar para todos os lados. É talvez mais que desenhar... ainda hoje é contar histórias. Mesmo que for em frente ao espelho.
Sou como tantos da época da frase que vivia ecoando: “Dá para viver de quadrinhos?”. Recentemente também me perguntaram numa live porque eu faço quadrinhos. A questão simples trouxe reflexões. Há a constatação que vive ecoando nas redes sociais, na boca amiúde dos analíticos de quadrinhos, que fazer e publicar hq’s não é fácil. O fato pesando sobre o sonho. Mas precisa disso? Em meados dos anos dois mil houve um tsunami de jovens autores que de lá para cá só vem aumentando e se renovando, mostrando um cenário prolífico. Para verificar isso basta comparecer em grandes eventos de cultura pop nas denominadas “alas/vale dos artistas”. Termo que me incomoda pois o campo dos artistas transcende as alas e os vales, os próprios eventos em si mostram. Algo que como observador lá atrás, de quem já vinha caminhando há tempos, pude perceber que essa caravana avançava sem lágrimas, sem desilusões, sem desesperanças, justamente com todo o oposto de muitos que para trás ficaram: “Nós queremos fazer!” Inerente ao espírito jovem, abandonando as lamúrias dos que não acreditavam no futuro... e claro... a questão que ainda hoje vejo correr nos eventos presenciais ou virtuais: “Qual o futuro dos quadrinhos no Brasil?” torna-se, com pedido de desculpas, aos que cultuam a questão, que dispensa análises. A coisa acontece aqui e agora. E se não está bem? Resiste com força e satisfação e afinal de contas, precisa mesmo estar bem? Olhe para o país e olhe para esse pequeno universo de gibis. O que te parece? Está ruim?
*Texto publicado originalmente na Devir News de abril de 2025











