Neste final do mês de março chega às livrarias e comics shop do país a segunda edição da revista argentina Fierro em sua versão brasileira (Editora Zarabatana, 160 páginas, R$ 59,00), trazendo artistas argentinos e brasileiros. A revista vem sendo publicada em seu país de origem desde início dos anos 80 e é considerada a principal publicação de quadrinhos da Argentina, trazendo grandes artistas como Maitena, Liniers, Horacio Altuna, Henrique Breccia, só para citar alguns nomes. E nessas idas e vindas, o Cláudio Martini, dono da editora Zarabatana me fez o honrado convite de participar da segunda edição. Grande satisfação, grande.
A opção de qual história a se trabalhar veio depois de algum tempo cozinhando idéias, possibilidades e foi justamente do universo criado para uma série dentro de minhas tiras do Banda Mamão, “O senhor Kublica e as musas” que brotou uma possibilidade de contar uma hq rápida (seriam só três páginas) e de certa forma apresentar algo tão pessoal e ao mesmo tempo de todos que criam e vivem para transpirar idéias e talvez emoções.
A série de tirinhas “O senhor Kublica e as musas” apresenta a figura de um artista, talvez um escritor, isso não deixei muito claro ainda, quem já viu, pode conferir, vivendo num universo real e ao mesmo tempo lúdico, onde suas questões pessoais, existenciais e artísticas o jogam de um lado para o outro o tempo todo. Kublica vive cercado por várias musas, suas fontes de inspiração, que como anjos da guarda vivem trazendo-o de volta dos umbrais por onde às vezes se joga para mostrar o quão possível às coisas podem ser se você realmente tiver a fé, crer no seu absoluto e divino potencial de criação. Essa é a tônica das tirinhas deste personagem.
As figuras das musas sempre são apresentadas como garotas bonitas (mas normais, esqueçamos o universo nosso das siliconadas), vestindo sempre de uma maneira moderna e charmosa e o diferencial está no tom azulado de suas peles, algo gráfico mesmo, sem muito significado, digamos assim, mais para trazer a diferença dentro de uma história em quadrinhos. Na hq produzida para esta segunda edição da Fierro então, “A quem interessar possa” (roteiro e desenhos desse vosso escriba e cores do Omar), resolvi mexer um pouco mais nesse universo lúdico do criador e sua musa, trazendo um artista gráfico, um desenhista em crise profissional e artística, questionando-se até que ponto sua obra tem alguma validade, algum interesse para alguém, se vale a pena seguir adiante. Como disse, algo comum a todos que vivem para criar.
Essa hq veio num momento pessoal onde este questionamento existia (e confesso que vez ou outra ainda está por aí), onde ao mesmo tempo a dúvida e o descrédito davam margem à presença de possibilidades, de crenças no que sempre fiz e faço, no meu ofício. O bem e o mal duelando dentro da cabeça. Vale – não vale a pena. Daí o artista ser eu e daí a musa também ser eu, dando o direito dela zombar algumas vezes dentro da história, do sentimento de auto-piedade e lástima do artista, tentando faze-lo perceber que o importante é prosseguir. Fazer.
Numa primeira estância questionei-me se era válido expor algo que nem eu mesmo acreditava ser perene em mim, mas por outro lado tratava-se de momentos que às vezes vão e às vezes voltam e o trabalho proposto para essa revista carecia de minha intenção de sinceridade.
Na verdade, a conclusão que chego constantemente, todos os dias e todos os momentos que sento na prancheta para produzir ou mesmo no micro para escrever uma história é que a cada momento eu aprendo, me descubro evoluindo, vejo que naquele dia aprendi a lição, e no dia seguinte, começa tudo de novo. Isso é muito sério e muito franco e é isso que me impulsiona a continuar e daí jogar um título nada sugestivo para esse trabalho para Fierro de “A quem interessar possa.
2 comentários:
Bacana demais! bjo
Elaine L. Neto
Muitas vezes é preciso apenas pararmos um pouco pra tomarmos um ar e voltar a produzir.
voce é um talento nato meu amigo, e isto é visto em seus trabalhos.
Parabens pelo convite e sucesso com a fierro.
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